É um dos primeiros locais para onde o nosso olhar se dirige quando entramos nas instalações do Serviço SolSal dos Salesianos de Lisboa. Um mural. Dom Bosco abraça um grupo de jovens, de várias origens. Sobre as figuras pode ler-se: “Uma Família com muitas famílias”.
Foi pintado por Francisco, um jovem voluntário do Serviço. “Dom Bosco olha-nos de volta”, refere Helena Domingues, psicóloga do serviço, “mesmo quando nos movemos, parece que nos segue, sempre. Está muito bem pintado”.
O Serviço SolSal foi criado em 2008, na obra salesiana de Lisboa, com a missão de intervir não apenas junto de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, mas também para desenvolver ações continuadas junto das suas famílias, na promoção do seu bem-estar e da sua autonomização.
E são muitas as famílias: 114 agregados, que representam neste momento um total de 378 pessoas, das quais 195 são menores de idade. Vinte e oito por cento das famílias são migrantes, oriundas de 10 países diferentes: Angola, Bangladeche, Brasil, Cabo Verde, Guiné, Índia, Moldávia, Nepal, São Tomé e Príncipe e Síria. Metade são originárias do Brasil. Desse número fazem parte três das quatro famílias que a Fundação Salesianos acolheu em 2016 no quadro do programa da União Europeia de recolocação de refugiados.
“A nossa participação no programa terminou em março de 2018. Neste momento são acompanhadas por nós enquanto famílias migrantes, como tantas outras que acompanhamos”, explica Alexandra Constantino, responsável do SolSal Lisboa e coordenadora, juntamente com o salesiano Pe. Álvaro Lago, das Obras e Serviços Sociais Salesianos a nível nacional.
O Serviço SolSal foi uma das entidades que se juntou à Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), uma iniciativa da sociedade civil para articular o acolhimento com um modelo de integração comunitária, em alternativa aos centros de refugiados. Todas as crianças e jovens dessas famílias se encontram a estudar, em escolas da Fundação Salesianos ou no ensino público sem grandes dificuldades.
“Inicialmente, os mais velhos sentiram mais dificuldades de integração e acompanhamento das aulas, mas atualmente estão integrados”, recorda Helena. A nível habitacional, continuam em habitações da Fundação Salesianos ou cedidas à Fundação Salesianos. Apenas um adulto se encontra desempregado, os restantes estão a trabalhar a tempo inteiro ou parcial. Relativamente a cuidados de saúde, todos estão inscritos e acedem com facilidade a consultas e exames médicos.
Para além das ajudas económicas, como a distribuição de cabazes de bens de primeira necessidade e refeições, os utentes acompanhados pelo SolSal têm acesso a programas de orientação familiar, de promoção de competências, acompanhamento psicológico, atividades de educação parental, workshops de culinária e de economia familiar.
Especificamente, às famílias migrantes, o SolSal dá apoio no acesso aos serviços da administração pública. Helena faz o acompanhamento dos processos dos utentes. “Um dos maiores desafios para estas famílias é aceder aos apoios disponibilizados pelo Estado e tratar das renovações dos documentos de identificação e de autorização de residência”, afirma. Outro aspeto em que o SolSal intervém é na integração e sociabilização dos migrantes, com aulas de português e sessões de conversação para aprendizagem da língua, e com o programa de “Mentoria Familiar Impacto”, que promove encontros com famílias portuguesas.
Também no Serviço SolSal, a pandemia impôs dificuldades acrescidas. “A nossa maior vitória foi termos continuado com a porta aberta, apesar de todas as alterações que tivemos de fazer no funcionamento do serviço”. Para algumas famílias, sem acesso à internet ou computadores, acompanhar a vida escolar tem sido um desafio. “O acompanhamento nas escolas reduziu e passou a ser efetuado muitas vezes online”, explica a psicóloga.
As atividades com grupos estão suspensas. O acompanhamento psicológico e atendimentos, no entanto, continuam a ser feitos presencial e individualmente, de acordo com as regras da Direção Geral de Saúde. E estão a ser retomados, com as necessárias adaptações, os encontros através do programa de “Mentoria Familiar Impacto”. “Com as devidas precauções e de acordo com as regras da DGS, presentemente estamos a fazer a entrega das refeições confecionadas às famílias, bem como as entregas de cabazes alimentares presencialmente”, conclui.
Antónia Andrade, voluntária do SolSal, é natural de Cabo Verde, da Ilha de São Vicente. Chegou a Portugal em 2001, com 27 anos, trouxe consigo um filho. Só mais tarde conseguiu reunir toda a família. Três filhos e o marido. Conheceu o SolSal há oito anos. Helena recorda que Antónia começou por receber apoio do Serviço Social Salesiano. “Mas assim que lhe foi possível tornou-se também nossa voluntária. Nem mesmo a Covid-19 afastou a Antónia do seu trabalho no SolSal”, continua. Hoje, Antónia prepara os cabazes mensais que são entregues às famílias com carências económicas e recolhe as refeições para distribuição diária pelo serviço.
Fotografias: João Ramalho
Publicado no Boletim Salesiano n.º 584 de Janeiro/Fevereiro de 2021