O Boletim Salesiano italiano publicou um artigo do historiador salesiano Francesco Motto em que é citada uma curiosa carta de São João Bosco de 18 de março de 1886 com destino ao Palácio do Rato, hoje Procuradoria-Geral da República, em Lisboa.
São João Bosco, nos primórdios da Congregação Salesiana, recebia com muita frequência pedidos para que os Salesianos abrissem obras a favor da juventude em outros locais, em Itália e mesmo no estrangeiro. Faltavam-lhe os salesianos e instalações para acolher a formação de novas vocações.
Em francês, dirige-se a Maria Luísa Sousa Holstein (1841-1909), terceira Duquesa de Palmela, com um pedido: “Excelência, […] não quereis dar este palácio como propriedade ou em uso a Jesus Nosso Senhor e Maria Auxiliadora?”. A Duquesa era proprietária de um antigo castelo medieval em Sanfré, a poucas dezenas de quilómetros de Turim, “que serviriam muito bem as minhas necessidades”, escreve Dom Bosco.
Dom Bosco apresenta-se como o fundador das obras salesianas dedicadas à educação da juventude “pobre e abandonada”. E, revela o Pe. Francesco Motto no seu artigo, espera alcançar a generosidade da Duquesa “com um toque de mestre da captatio benevolentiae: lisonjeou a duquesa recordando-lhe a fama dos seus sentimentos caridosos e generosos, bem como o zelo que demonstrou em tantas ocasiões em cooperar para a glória de Deus e a salvação das almas”.
“Podemos imaginar a surpresa da Duquesa Católica ao pedido de «vender ou alugar» um dos seus castelos no Piemonte nada menos do que ao Senhor Jesus e à Virgem Maria”, continua o historiador.
O imóvel não chega às mãos de Dom Bosco e desconhece-se se houve resposta da Duquesa, mas, ironicamente, o mesmo castelo de Sanfré veio a pertencer a outros religiosos para uma função idêntica.
Fotografia: Maria Luísa Sousa Holstein, Arquivo fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa