“Com Maria, testemunhamos o Amor”: a experiência da Visitação de Maria a Isabel e as características da Senhora da Visitação

Partindo do tema “Com Maria, testemunhamos o Amor”, faço uma releitura dos tempos que vivemos e do contexto de preparação e aproximação à Jornada Mundial da Juventude. O contexto da JMJ 2023, que estamos a preparar, é um tempo de Visitação às novas fronteiras, às realidades juvenis que desafiam o nosso sentido de missão. A experiência da Visitação de Maria a Isabel é a proposta que é feita à Igreja, neste tempo de caminho eclesial. Um ícone de testemunho do Amor. O ponto de partida foi o texto do relato da Visita de Maria à sua prima Isabel, em S. Lucas.

Maria da Visitação, Senhora da escuta atenta e do acolhimento.

A primeira característica da Senhora da Visitação é a do olhar e da escuta.

Olhou e escutou Aquele que a visitou – o Espírito Santo, olhou e escutou os seus que acreditaram e não acreditaram nela, olhou e escutou o seu noivo José, etc.

Prestou atenção à realidade que se cruzava com os seus dias, na diversidade de condições e de situações em que viveu.

Exigiu dela humildade, proximidade e empatia com os acontecimentos, para entrar em ligação com eles e perceber quais eram as alegrias e as esperanças de ser visitada.

No fundo, acolheu e assumiu os desafios e as oportunidades que emergiram na sua vida, deixando que a tocassem em profundidade. Todo o atendido e acolhido favoreceu o caminho subsequente.

Maria, a Senhora da Visitação, é hoje, para nós e connosco, a evidência que o Amor tem o seu fundamento na experiência de deixar-se interpelar e corresponder com a delicadeza da escuta atenta e livre.

O caminho que já estamos a trilhar, neste contexto de preparação e vivência da JMJ, pode ser um grande contributo intencional para a criação de momentos e ações pessoais e comunitárias que nos projetem como “visitadores” dos jovens, da comunidade, etc., fomentando acolhimentos e escutas novas. Saindo inclusivamente dos nossos hábitos tantas vezes já formatados e distantes das realidades.

Como vivo os meus dias nesta disponibilidade para escutar, para acolher, para atender apaixonadamente?

Maria da Visitação, Senhora da fé.

A segunda característica da Senhora da Visitação é a da fé.

Ela encontra a fortaleza da fé na experimentação do seu Senhor. Porque se deixa visitar e tocar na totalidade da sua vida, recebe o dom do próprio Jesus em si. A fé nasce desta experiência pessoal e vai muito além de Maria.

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A centralidade da “visitação do Deus de Amor” dá-se com a incarnação de Jesus no seu ventre, realizando o maior dos atos de fé da história de Deus e da história dos homens.

O Senhor confia tudo a Maria e Maria vive entregue à fé que é dom em Jesus.

O apelo de Jesus, em Maria, corresponde a viver segundo as suas intenções, sendo esse o horizonte de referência para ela. A doação total de si a Jesus.

A fé como visitação é o deixar-se modelar pelo próprio Jesus, é viver unicamente do Senhor Jesus.

Também para nós, esta “visitação da fé em plenitude” (em Jesus), é um constante permanecer numa sã inquietude. O Papa Francisco numa saudação natalícia em 2017 diz: «Uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise; uma fé que não nos faz crescer é uma fé que deve crescer; uma fé que não nos questiona é uma fé sobre a qual nos devemos questionar; uma fé que não nos anima é uma fé que deve ser animada; uma fé que não nos sacode é uma fé que deve ser sacudida» (Francisco, Encontro com os Membros da Cúria romana para a apresentação dos votos natalícios, 21 de dezembro de 2017).

A JMJ, como tempo de fortalecimento da fé, é um tempo da Graça que desafia a liberdade da mesma fé. Os jovens, as comunidades, as organizações… precisamos de viver da fé, do dom de Jesus e da sua constante visitação amorosa.

Onde, como e quando despertamos para a profundidade, disponibilidade e autenticidade de nós mesmos, para o dom da fé, na ação da “incarnação” de Jesus em nós?

Maria da Visitação, Senhora missionária.

A terceira característica da Senhora da Visitação é a da missionaridade.

Maria, que visita Isabel, – e que, intuímos, terá visitado a tantos –, é a marca e a evidência de quem é missionário. Esta jovem Maria encontrou no sentido dos seus dias a resposta, em saída, na oferta de Jesus ao mundo.

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Percebemos que a “visitação” não é meramente uma ideia simpática, ou somente um belo episódio de vida, mas um arrojo, numa perspetiva de doação, de sacrifício, e com um estilo bem definido, o de servir. Visitar é ir além de si próprio com este sentido de missionaridade, em nome de Jesus e entregando Jesus.

Maria cumpre a sua missão para com tantos: ajudá-los a encontrar o Senhor, a sentirem-se amados por Ele e a responderem ao seu chamamento, à alegria do Amor.

Este modelo de luz, naquela que foi expressão maior de quem sabe visitar, ilumina os nossos dias. E, de alguma forma, serve de paralelo para compreendermos as realidades dos nossos dias. Com esta mesma “preocupação visitadora”, dizia o Papa na preparação do Sínodo sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”: “… o Sínodo é «também um apelo dirigido à Igreja, para que redescubra um renovado dinamismo juvenil. […] Também na Igreja devemos aprender novas modalidades de presença e de proximidade» (Discurso à Reunião pré-sinodal, 3). No fundo, poderíamos reler estas palavras dizendo que a Igreja é desafiada, e também nós enquanto Família Salesiana, a encontrar caminhos de “visitação” às novas realidades juvenis. E este assunto é de todos.

Nesta missão de oferecer Jesus aos jovens, a Igreja tem vindo a perceber que a fórmula “Igreja em saída” identifica de maneira pertinente o modelo e também uma sincera e profunda escuta dos jovens que participam plenamente na busca do sentido da fé.

Nesta dinâmica de discernimento, nós próprios enquanto Igreja, em peregrinação missionária neste tempo de Graça que nos aponta a JMJ, estamos comprometidos a acompanhar todos os jovens, com um renovado e alegre entusiasmo apostólico, através de um caminho de conversão pastoral e missionário.

Como cuidamos o nosso envolvimento missionário na nossa comunidade, nos nossos grupos, nas nossas relações, para que possamos estar mais perto e mais disponíveis para partilhar a vida com os jovens, de forma especial?

Reflexão apresentada na 35.ª Peregrinação da Família Salesiana ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Auxiliadora, Mogofores, 24 de outubro de 2021

Imagem: “Visitation”, Jacques Daret, c. 1435 (Staatliche Museen, Berlin)

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