Memória: O dia em que nasce um filho

Ao visitar um bebé que acaba de nascer, seja na maternidade, ou em casa passados 15 dias, ouvimos da mãe (e nós queremos saber) o relato entusiasmado do parto. Para quem vai contando passo a passo e, para quem ouve, é uma aventura, narrada na primeira pessoa. As mães, com muito entusiasmo, especificam cada momento do trabalho de parto – as contracções, as enfermeiras, o médico, o hospital, etc. – tudo é uma grande epopeia!

O pai, se está presente, acrescenta algumas interpretações acerca dos passos que foram dados, muito elaboradas e sábias mas, sem grande minúcia… A mãe é a detentora dos pormenores. É natural, que após o nascimento de um bebé tudo esteja muito presente.

Porém, falando certo dia com uma mãe de 79 anos, reparamos que esta contava o parto dos seus três filhos, com o mesmo entusiasmo, com a mesma frescura e pormenor daquelas mães que acabam de ter o filho. Egoisticamente pensamos: “Que importa o parto de há mais de 50 anos?”. Mas importa, e muito.

Desde então, não deixamos de reparar nesse facto – a memória que cada mãe tem do parto, de cada um dos seus filhos. Muitas referem – “é o dia mais importante da minha vida” – (e é, efetivamente!) Naquele dia, o mundo existe para que nasça o nosso filho. Tudo gira em torno da grandeza que é uma vida humana, cada vida humana. Não importa se só temos um filho ou se temos vários. Cada parto é único, inconfundível, irrepetível e igualmente exaltante.

Da mais carenciada mãe, acompanhada pela técnica da Segurança Social, à mais abastada mãe, todas relatam com alegria aquelas horas de dor, jubilo e carinho. O que vem depois pouco importa, porque ali está O Momento da entrega, da chegada, do Mistério, da Beleza, da Esperança que se torna Vida.

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Antigamente, pensava-se que o parto era um momento tão especial porque naquele se ficava a saber se é menino ou menina. Com as ecografias, tal facto sabe-se muito cedo, durante a gravidez. Mas o parto não deixou de ter esta “mística”, esta explosão de alegria, que prende totalmente uma mãe, um pai e cada pessoa que lhe está próximo.

No dia de aniversário dos nossos filhos temos “a necessidade” de lhes contar como foi aquele dia em que ele nasceu. E todos os anos, naquele dia, contamos o que se passou por aquelas horas. Recordamos. Este “contar o dia” dá alegria a toda a família. Em geral o pai acrescenta algum comentário… e o filho sente o Amor.

Em Portugal, por ano, mais de 16.000 mulheres praticam um ato (aborto) que as impede de ter esta alegria (parto). Esse ato (aborto) por certo gera dor, angústia, impotência e tristeza. E, tal como o parto cuja memória perdura por toda a vida, estamos em crer, também esta ferida (aborto) se mantém por uma vida. Quantas vezes aquelas que abortam dizem com amargura e dor: “Se soubesse o que sei hoje, não o teria feito” ou “nunca mais me esqueci daquele dia” ou ainda “a minha vida mudou naquele dia”. E quem ouve estas palavras também sente dor e tristeza. Eliminar uma vida é sempre um ato contra a Natureza, contra a Mulher, contra a Família e a Sociedade.

A maternidade e a paternidade tornam cada mulher e cada homem seres mais potenciadores, que se superam a si próprios e tocam na “essência do mundo”. O relato de um parto, não depende da mãe, é mais do que ela, é todo o seu ser que exulta de alegria e Amor. O parto, é o encontro com a Criação.

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Gosto mesmo de ouvir relatos de partos, feitos pelas mães, com todas as suas vicissitudes, seja em que idade for. É sempre Bonito e Bom.

P.S.: Recordamos, a este propósito, o que sabiamente escreveu/comentou S. Lucas quando relatou o nascimento do Menino que, pensamos nós, terá sido contado por Maria ao Apóstolo: “Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as no seu coração” (Lc. 2, 16 a 21).

Originalmente publicado no Boletim Salesiano n.º 567 de Março/Abril de 2018

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