É meio-dia. Estamos em Roma, na casa salesiana do “Sacro Cuore”, ao lado da Estação Termini, a estação ferroviária mais importante da Itália. Todos os dias passa por aqui meio milhão de pessoas; mas hoje, e com o rosto velado pela pequena máscara, circula apenas uma vintena.
Penso nas cidades da Itália, nas suas ruas desertas, restaurantes fechados, povo coagido a ficar nos seus apartamentos a cantar alguma canção nas varandas, sem saber se por tédio ou se para dar ânimo à esperança. Creio que pouquíssimos de nós podiam imaginar que a doença chegaria tão velozmente às nossas Casas, às nossas Escolas, aos nossos Oratórios.
Penso nas escolas fechadas em tantas terras onde as crianças dependem dos lanches e refeições escolares para uma boa alimentação. Penso nos seus pais que provavelmente perderão as suas fontes de rendimento, e também me pergunto como irão prover no imediato às suas famílias.
Penso nas nossas comunidades religiosas, agendas e planos interrompidos, deixando-nos perplexos e imersos num claro sentido de precariedade.
Penso no papel que estão a ter os media, com a sua tendência a carregar na emotividade, chegando por vezes a distorcer a realidade. Na história das epidemias houve com frequência a tendência a apresentar os problemas de maneira não apropriada e a provocar pânico entre o povo. Mas mais me pergunto: não há espaço para a esperança nas ações frequentemente heroicas dos nossos concidadãos?
Penso no grande mito que temos construído, de um mundo ‘tecnológico’, com cidades eficientes e espaços seguros…, que agora nos mostra tanto a nossa fraqueza: a nossa vida está em outras mãos, não somos nós a determinar a história, mas Deus.
Penso em tantos salesianos, homens de fé e de esperança, que compartilham os sofrimentos dos nossos jovens, que veem cair, devido a esta pandemia, os seus entes queridos, e sobretudo vão confortando tantos que estão a defrontar-se com o medo do desconhecido.
Esperamos que a pandemia do coronavírus seja um exemplo de colaboração global na superação de outros desafios para a humanidade: desigualdades, mudanças climáticas, intolerância, racismo, exclusão… A epidemia, mais dia, menos dia, findará. Espero que nos faça compreender melhor que somos todos seres humanos e que, quando, com a ajuda de Deus, unirmos as nossas forças, poderemos conseguir tudo.
Publicado no Boletim Salesiano n.º 580 de Maio/Junho de 2020