Mensagem do Reitor-Mor aos leitores do Boletim Salesiano.
Há uns meses estava eu em Goa, na Índia. Goa é uma joia engastada no majestoso continente indiano. Aqui se encontram as praias de areia mais belas do mundo e os panoramas marinhos mais encantadores. Entre as palmeiras que bordam o horizonte, entrevia as igrejas construídas nos séculos XVI e XVII. Uma delas é a Basílica do Bom Jesus, que se tornou um centro de peregrinação porque conserva os restos mortais de S. Francisco Xavier, o missionário navarro – discípulo de Santo Inácio de Loyola, fundador dos jesuítas –, que evangelizou o Extremo Oriente. S. Francisco Xavier morreu na China em 1552, mas as suas relíquias permanecem nesta belíssima basílica, situada ao lado da catedral e da igreja de S. Francisco de Assis. Este edifício para acolher os seus restos morais foi construído entre 1594 e 1605. Aqui se conserva o seu corpo, que antes foi sepultado numa caixa cheia de cal e dois anos depois transladado, miraculosamente íntegro e intacto, primeiro para Malaca e depois para Goa, onde é recordado e venerado de modo encantador. E ali tive o privilégio, acompanhado por outros salesianos e leigos, de celebrar a Eucaristia no altar sobre o sepulcro deste grande santo missionário jesuíta. E pedi para celebrar a Missa em honra de S. João Bosco, a implorar a sua intercessão.
Francisco Xavier foi, provavelmente, o maior missionário da história. Vivendo apenas até aos 46 anos, realizou em 10 anos um trabalho missionário incrível. Aqui em Goa deu início ao seu apostolado: começou pelas prisões e pelas crianças. Percorria as ruas e as praças, convidando as crianças a ir à igreja. Na igreja, ensinava o catecismo às crianças com pequenas canções fáceis e alegres, que ele mesmo tinha composto.
Na história da Igreja, Dom Bosco é sem dúvida outro grande missionário. Por isso a minha celebração eucarística foi simples, comovente e espiritualmente intensa. Apresentei ao Senhor, pela mediação de Francisco Xavier e de Dom Bosco, a missão salesiana no mundo e a nossa opção preferencial pelos rapazes, raparigas e jovens do mundo, especialmente os mais pobres.
Alguém poderia perguntar-se porque apresento Dom Bosco como grande missionário, se na realidade ele nunca foi missionário “ad gentes”. Dom Bosco enviou os seus filhos salesianos até aos confins do mundo, mas pessoalmente nunca foi missionário em terras distantes, embora muito tivesse desejado sê-lo. Em inúmeras cartas escreve que o seu desejo mais ardente sempre fora ir para as missões. «Irão os meus filhos por mim», dizia. É uma verdade extraordinária: Dom Bosco transmitiu o seu forte impulso e o seu fervor missionário ao espírito da Congregação. Para falar do grande coração missionário de Dom Bosco, pode bastar este simples dado: quando Dom Bosco morreu, em 31 de janeiro de 1888, tinha já enviado como missionários 20 por cento dos seus salesianos, 153 no total. Se esta não é verdadeira paixão missionária!…
Naquela igreja antiga de Goa respirava eu a força da inspiração missionária e dei graças ao Senhor pelo milagre da missionariedade. O Espírito Santo guiou e acompanhou o trabalho de evangelização em toda a Ásia com os primeiros missionários franciscanos, dominicanos e jesuítas… e também com os filhos e as filhas de Dom Bosco. Atualmente, há 2.786 salesianos na Índia e diversos milhares de irmãs Filhas de Maria Auxiliadora, Irmãs Missionárias de Maria Auxílio dos Cristãos, Irmãs Catequistas de Maria Imaculada Auxiliadora, etc.
Diante das cândidas praias de Goa, pensava eu na antífona da Festa de Dom Bosco: «O Senhor deu-lhe sabedoria e prudência, e um coração grande como a areia que há nas praias do mar».
(Foto superior) Goa, Índia: Durante a visita à Índia, em março e abril deste ano, o Pe. Ángel Fernández Artime presidiu à Eucaristia no Santuário que acolhe as Relíquias do Patrono das Missões, São Francisco Xavier, na parte antiga de Goa
Publicado no Boletim Salesiano n.º 576 de Setembro/Outubro de 2019
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